Um relato de Simone Pimentel, coordenadora de uma Casa de Apoio para Mulheres sobre como transformar a dor em propósito e ressignificar a vida.
Olá, viajantes! Sabe aqueles encontros inesperados que mudam nossa forma de ver o mundo? Pois bem, foi assim que conheci a Simone, uma mulher cuja força e generosidade me tocaram profundamente.
Eu estava de férias com a minha família fazendo uma viagem com destino a Lavras, Minas Gerais, quando, de repente, essa viagem tomou um rumo inesperado após um imprevisto no caminho, eu contei mais sobre esse momento aqui.
Foi justamente nesse desvio que encontrei não apenas um novo destino, mas uma história de vida que merece ser compartilhada.
Simone é mais do que um nome. Seu significado, “aquela que ouve”, reflete sua missão diária: acolher e confortar mulheres que, em meio à dor e à incerteza, encontram na Casa de Apoio para Mulheres na cidade de São João del-Rey, um refúgio.
Mas para dedicar sua vida a esse propósito, ela precisou enfrentar o luto da perda de seu ex-companheiro ressignificando sua vida sozinha e ainda lutar pela própria sobrevivência após dias intubada no hospital lutando contra a COVID-19.
Simone juntou forças, lutou sozinha, agarrou-se à sua fé e deu ouvidos à voz do sopro da vida, venceu a batalha contra esta doença e renasceu para seguir com a sua missão para impactar a vida de outras pessoas.
Histórias inspiradoras merecem ser sentidas e não apenas lidas. Venha conhecer mais sobre essa mulher extraordinária que a viagem me proporcionou e leia sobre a sua jornada de superação. 💖✨
O Café com a Mari conversa com a Simone Pimentel, coordenadora da ANAPECC de São João del-Rey.

Histórias Inspiradoras: Encontrando Meu Propósito
A dor já havia cruzado o caminho de Simone algumas vezes.
Com a voz embargada e os olhos tristes, durante o nosso café, ela me contou sobre ter passado por uma infância difícil e sobre a perda de três companheiros que marcaram profundamente sua vida — três pessoas que ela amava profundamente e que levaram consigo pedaços da sua história.
Entre elas, a partida de seu último ex-companheiro foi a que mais a fez questionar os rumos da própria existência.
Juntos, eles compartilhavam o desejo de uma vida com propósito. Ele sonhava em trabalhar no serviço social, e ela admirava essa ideia, enxergando nesse sonho um caminho que poderiam trilhar juntos.
Até que a vida, imprevisível como é, seguiu outro rumo. A morte o levou antes que esse plano pudesse se concretizar, deixando Simone a questionar como seguir a vida com os planos que haviam feito.
“Eu estava velando o meu ex-companheiro, que também sempre sonhou em trabalhar no serviço social, e esse desejo não se concretizou na vida dele, neste momento de dor, eu questionava sobre minha vida, na qual eu também tinha vontade de viver com um propósito.”
Foi em meio a essa dor que a vida lhe trouxe um chamado inesperado. No momento em que menos esperava, Simone recebeu um convite que mudaria tudo. E foi preciso coragem para ouvir (“aquela que ouve”). Foi aí que, levantando forças em pleno luto, ela quis transformar a dor em propósito e decidiu ser luz na Casa de Apoio para Mulheres em São João del-Rei.
Neste Post…
1. Como surgiu o convite para trabalhar na Casa de Apoio? Você já imaginava que seguiria esse caminho?
Simone Pimentel: Nunca imaginei que trabalharia em uma ONG, embora sempre tenha gostado de lidar com pessoas. Minha vida inteira foi no comércio, e eu me sentia bem ali.
Mas a vida tem formas misteriosas de nos guiar. No dia do velório do meu ex-companheiro, ainda tentando lidar com a dor daquela despedida, recebi uma ligação inesperada. Era a presidente da ANAPEC, minha amiga pessoal, que enxergava em mim um dom para acolher pessoas.
Naquele momento de luto, ela me fez um convite: assumir a gestão da Casa. Achei que era um sinal de Deus naquele momento. Lutei, tirei forças para conversar com ela e aceitei o convite.
2. Como transformar a dor em propósito especialmente no momento de luto?
Simone Pimentel: No meio do luto, senti que precisava encontrar um novo significado para a minha vida. Quando recebi o convite, não hesitei. Apenas ouvi a voz de Deus e segui. Pedi demissão do meu emprego sem olhar para trás, porque, naquele momento, entendi que meu chamado era maior do que a dor que eu estava sentindo.
Eu precisava me reconstruir, e a casa de apoio se tornou esse novo caminho. Não foi fácil, mas cada passo que dei me mostrou que eu estava exatamente onde deveria estar.
3. Como foram os primeiros passos na Casa de Apoio?
Simone Pimentel: Foi um começo desafiador. Precisei construir a casa do zero, conquistar a confiança das pessoas ao meu redor e enfrentar obstáculos que eu nem imaginava.
Cada dia era um novo aprendizado, e, apesar das dificuldades, eu me agarrava à certeza de que aquele trabalho fazia sentido para mim e para tantas outras pessoas.
Histórias Inspiradoras: a luta contra a COVID-19
Simone sempre foi uma mulher de desafios. Durante o nosso café, ela me contou como sua vida, marcada pela luta em prol dos outros e pelo desejo constante de superação, a tornou uma verdadeira guerreira, mas isso teve um alto preço.
Desde que assumiu a missão de acolher mulheres em sofrimento nesta Casa de Apoio, ela colocou o bem-estar do próximo como um objetivo maior. Mas para seguir com essa missão, ela precisou enfrentar o maior desafio de sua vida: a luta contra a COVID-19.
Simone passou por uma experiência que desafiou seus limites e testou sua resistência de forma inimaginável. Durante a luta contra a COVID-19, ela enfrentou uma série de dificuldades que iam além da doença em si. O maior desafio foi estar sozinha, sem companhia, em um momento tão crítico de sua vida.
Foram dias de total incerteza, com a doença em estágio grave e o hospital abarrotado de pacientes. Ela foi intubada e teve que enfrentar a perda de pessoas ao seu redor, que não conseguiram resistir.
Mesmo diante de tanta adversidade, ela se agarrou à esperança e à vontade de seguir vivendo. Lutou contra o desespero, sentindo cada respiração como um ato de resistência.
1. Você pode compartilhar um pouco sobre sua experiência com a COVID-19?
Simone Pimentel: A COVID-19 chegou de uma forma inesperada. Eu contraí o vírus através de uma pessoa que estava ajudando na Casa de Apoio, ela estava com o vírus, mas não me informou sobre a contaminação. Só soube disso após sair do hospital.
A maior dificuldade durante aquele período foi a solidão. Eu estava em casa, sem companhia, e meu pulmão estava 80% comprometido. O medo era grande, pois tudo era muito novo, e o risco de ser internada me aterrorizava.
Infelizmente, fui internada e intubada. Passei por uma experiência muito difícil: compartilhei o quarto com outras oito pessoas, todas gravemente doentes, e todas elas faleceram.
Isso mexeu profundamente com o meu emocional, seria eu a próxima? Mas mesmo na fraqueza extrema, eu sentia que precisava encontrar forças para sobreviver, pois sabia que havia algo maior me aguardava: seguir com o meu trabalho.
2. Em algum momento, você sentiu que não conseguiria sobreviver? O que te deu forças para continuar?
Simone Pimentel: Sim, houve momentos de desespero. Em meio à dor e à incerteza, eu me voltava para Deus. Senhor, eu não tenho filhos, nem marido, mas se ainda há um propósito para mim, me dê forças para continuar. Eu quero viver.
Eu sabia que o trabalho na Casa de Apoio já havia retomado e que muitas mulheres dependiam de mim. Eu amava profundamente o que fazia e sentia que minha vida estava ali, ajudando outras pessoas.
Essa paixão pelo que faço, essa sensação de missão e a vontade de continuar a impactar a vida de outras mulheres, foi o que me deu forças para seguir em frente.
Eu queria mais uma chance de viver, para cumprir a missão que encontrei quando perdi meu ex-companheiro, que era de fazer a diferença na vida de tantas pessoas que precisam de ajuda.
3. Como foi o processo de recuperação física e emocional depois de tudo?
Simone Pimentel: A recuperação física foi desafiadora. Segui o tratamento com remédios, pois ainda lido com sequelas, incluindo problemas cardíacos. Porém, o emocional foi, sem dúvida, o maior desafio.
É algo que depende de nós mesmos para superar, e diante de tudo o que vivi, eu sabia que precisava ter uma força imensa para me reerguer.
O processo foi traumático, especialmente por tudo o que experimentei dentro do hospital, e a dor emocional ainda me acompanha.
4. Depois de passar por essa experiência, o que mudou na sua visão sobre a vida?
Simone Pimentel: Essa experiência me ensinou a importância de estabelecer limites quando necessário. Passei a valorizar a vida de uma maneira mais profunda, com mais amor próprio, paciência e a vontade de viver plenamente.
Antes, eu me colocava muito em segundo plano, mas agora entendo que preciso priorizar a fazer algo que contribua para o meu bem-estar e felicidade.
Aprendi a priorizar minha saúde emocional e a dar mais atenção ao que realmente importa, sem perder o equilíbrio.
5. Você sente que essa experiência te deu uma nova oportunidade de transformar a dor em um novo propósito?
Simone Pimentel: Sim, sem dúvida. Essa experiência transformou todos os aspectos da minha vida: sentimental, espiritual e até profissional. Através da dor e da superação, percebi o quanto minha missão de ajudar os outros se tornou mais forte e significativa.
Agora, meu propósito vai além de simplesmente viver; ele envolve impactar positivamente as pessoas ao meu redor, especialmente aquelas que mais precisam. Eu tenho gratidão por cada dia vivido.
6. Se pudesse dar um conselho para quem está passando por um momento difícil, qual seria?
Simone Pimentel: Viva intensamente, dia após dia, com gratidão pelos menores detalhes da vida, como o simples amanhecer.
A vida é um presente, e mesmo nos momentos mais sombrios, é essencial valorizar cada passo, por mais difícil que seja.
Para as mulheres que estão lendo minha história, eu diria: não desista! Por mais desafiador que o caminho seja, persevere. Lute, guerreie. Acredite em sua força e no poder de se reerguer, pois a superação está dentro de cada uma de nós.
Passaporte Rosa: A trajetória de Simone é um verdadeiro exemplo de força, resiliência e superação. Ela nos mostra que, por mais desafiadora que a vida seja, sempre há uma luz que nos guia, mesmo nos momentos mais sombrios.
Ao compartilhar sua jornada, ela nos lembra que nunca estamos sozinhos e que, mesmo nas dificuldades, podemos recomeçar e continuar a lutar.
Que sua luz siga brilhando e inspirando muitas mulheres.
Com carinho,
Passaporte Rosa
Escrito por Mari Andrade.